.
.
.
.

VI

Um, outro, outros confidenciam que tiveram Simone. Que ela os amava, só a eles e a mais ninguém. Ela mesmo lhes havía dito que era só deles, exclusiva.
Apetece-me gritar-lhes que é tudo mentira, que só a mim ela disse que amava, que só a mim dedicava essa exclusividade de que tanto se gabam estes palermas.
Mas não digo nada.
No fundo, sei que ela me disse o que disse a todos quantos estão aqui. E não mentiu. Amou-nos a todos na sua forma peculiar de ser e isso torna-a verdadeira e original.
Simone não foi mulher de um homem. Não é. Ainda que morta e enterrada sei-a viva no que lhe sinto, no que consigo ouvir da sua boca como um segredo fantástico.
- Sabes que te amo?
Eu não dizía nada, sentía-me tonto, o estomago a dar uma volta, quería encontrar palavras bonitas e únicas para lhe responder, qualquer coisa que lhe desse a entender que o que estava a acontecer era sublime e inabalável.
Nunca lhe respondi das vezes que me disse que me amava. Quando ficava sózinho ensaiava a resposta adequada a tão grande pergunta, uma parvoíce, na altura própria voltava a calar-me.
- Tu sabes que te amo, não sabes?!
Retóricas. Ela sabía. Se sabía.
Por isso não digo nada, deixo-os anestesiarem-se nessa doce frase que ela repetiu a todos nós. Todos nós lhe devemos isso pelo tanto de amor que nos deu.